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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Marcação a mercado de títulos públicos

By Quero Mais é que se f…

O que é marcação a mercado?


É atribuir o valor de um título na data atual, mesmo que ele só tenha vencimento em uma data futura, ou seja, seria o valor de um determinado título se o proprietário\detentor do título resolvesse vendê-lo antecipadamente. A marcação a mercado pode ser feita com qualquer título, seja público, seja ele privado. É uma operação semelhante ao desconto bancário, aquela que atribui o valor atual a qualquer tipo de “papel”, obviamente embutindo-se uma taxa de juros. Especificamente nesse artigo eu vou tratar de marcação a mercado dos títulos públicos.

E o que a marcação a mercado pode proporcionar para um estrategista que resolve adotar tal prática?


Bem, ela pode proporcionar rentabilidades bem superiores aos rendimentos contratados originalmente. Seja em títulos pré-fixados (LTNs) ou atrelados ao IPCA, as famosas NTNs, sabendo fazer a marcação a mercado, pode-se conseguir rendimentos superiores àqueles contratados quando da compra dos títulos.

Todos os dias os preços dos títulos sofrem variações pelo menos umas três vezes. E isso, muita gente não entende o porquê. Os títulos sofrem variações por diversos fatores, como a expectativa de como se comportarão os juros futuros, uma instabilidade político-econômica do país, enfim, qualquer evento de mudança nos rumos da economia do país. É o que chamamos de precificação.

A rentabilidade informada no momento da compra é garantida somente se o investidor ficar com o título até o seu vencimento. Um aumento na taxa de juros de mercado em relação à taxa que foi comprada pelo investidor fará com que, em um determinado período, o título tenha uma rentabilidade inferior à informada na compra. Uma queda na taxa tem o efeito inverso.

Mas lembrem-se que se você carregar o título até a data do vencimento e, em tese, nunca perderá com a operação, pois receberá exatamente aquilo que foi contratado.

Vamos tentar explicar de forma bem didática de como funciona a marcação a mercado e por que pode haver variações consideráveis nos preços dos títulos.

Lembremos em primeiro lugar que as taxas que rentabilizam os títulos estão atreladas à taxa básica da economia, no caso, a SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custódia), aos juros futuros, às variações cambiais do dólar;

Se temos uma economia estável, forte, a taxa Selic tende sempre a descer, afetando todo o sistema financeiro nacional, já que o mercado financeiro se pauta por essa taxa básica, inclusive os bancos; vejam que o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), hoje, em 13,88%, está diretamente vinculado a essa taxa.

Hoje, a taxa Selic está em 14% a.a, mas até uns anos atrás, somente na base da “canetada”, ou seja, sem que houvesse os fundamentos para redução dessa taxa, o DESgoverno daquela doente mental, a ANTA Roussef, a taxa chegou a 7,25% a.a. E isso impactou diretamente nos preços dos títulos ao longo da queda dessa taxa. Como não se deve baixar ou subir juros “na marra”, a economia foi se degringolando e as taxas tiveram que subir novamente.

Mas chega de blá, blá, blá.

Vamos explicar quais são os componentes que formam o preço dos títulos.

Montante é o capital inicial acrescido de juros durante um período.

Capital é o dinheiro inicialmente investido.

Juros é o custo do dinheiro, a remuneração, o prêmio pago para quem disponibilizou o capital.

Tempo (T) é o período em que o capital fica aplicado rendendo juros.

Montante = (Capital + Juros)™

Para saber do valor do título na data atual você aplica a operação inversa:

C= M\(1+J)™

Suponhamos que um determinado título hipotético, chamado W, tenha um prazo de 5 anos de vencimento, que remunere a taxa de 10% a.a, e que pague ao final do período de 5 anos, a bagatela de R$ 1.000,00. Obviamente que essa taxa de 10% a.a estaria baseada na taxa de juros da economia na época da venda do título, podendo ocorrer variações da Selic ao longo desses 5 anos. A despeito do que venha acontecer, a sua taxa de 10% a.a estará garantida ao longo do prazo de validade do título, ou seja, dos 5 anos, desde que você o mantenha até o seu vencimento. Se você mantiver o título pelo período dos 5 anos, irá receber os seus R$ 1.000,00, descontado o imposto de renda, conforme contratado.

Ao longo desses 5 anos o preço do título poderá sofrer variações, a depender do que venha a ocorrer com a taxa de juros da economia. Se você resolver vender o título durante essas variações, pode perder ou lucrar com essa operação.

Mas quanto esse título valeria hoje, já que ao final dos 5 anos ele me pagará R$ 1.000,00 brutos?


Lembrem-se que os títulos pré-fixados e os títulos atrelados ao IPCA valerão R$ 1.000,00, descontados os impostos, na data de seu resgate.

No nosso título hipotético, que também valerá “milzinho” na data de seu resgate, precisamos saber do valor desse papel hoje.


Qual o valor atual desse título?


C = 1000,00\(1,10)^5 = R$ 620,92.

Então, o valor atualizado do título hoje é de R$ 620,92;

1 anos depois, com a taxa de juros de 10% a.a, esse título valerá R$ 683,01;

No segundo ano, R$ 751,31; e assim sucessivamente, conforme consta da situação abaixo:

1 ano               2 anos              3 anos              4 anos                5 anos

10% a.a          10% a.a            10% a.a           10% a.a            10% a.a

R$ 683,01;     R$ 751,31;      R$ 826,44;      R$ 909,08;      R$ 1.000,00.

Na situação acima, estamos considerando, HIPOTETICAMENTE, que a taxa da economia ou qualquer outro evento que pudesse influenciar o preço de negociação dos títulos, não sofreu oscilações durante esse período e, portanto, o título foi sendo carregado com os rendimentos negociado, ao longo dos 5 anos de validade, consoante demonstrado.

Mas se a taxa da economia sofrer variações durante esses 5 anos, que é exatamente o que ocorre na realidade, como seriam as flutuações do valor desse título?

Você comprou esse título do exemplo pelos R$ 620,92 e logo no primeiro ano a taxa da economia subiu para 12% a.a.

Como no exemplo já se passou um ano, o preço de mercado desse título seria calculado da seguinte forma:

Pelos 1000\(1,12)^4 (anos)  = R$ 635,51. Veja que o valor dele, caso não houvesse a subida da taxa de juros de 10% para 12%, seria de R$ 683,01 e não os R$ 635,51.

Como houve variação na taxa (de 10% para 12%), o preço unitário do título não variou os 10% a.a nesse período de um ano, mas somente 2,30%, passando de R$ 620,92 para R$ 635,51.

Continuando no nosso exemplo, no segundo ano, houve uma nova variação na taxa de juros da economia e a mesma passou a ser de 14% a.a, quanto então estaria valendo esse título no segundo ano?

C = (1000)\(1,16)^3 (anos) = R$ 640,65.

Mais uma vez, conforme subiram as taxas de negociação, o título não sofreu a variação dos 10% no segundo ano, mas somente 0,8% em todo o ano, passando de R$ 635,51 para R$ 640,65.

Quem tivesse comprado o título lá no começo, pelos R$ 620,92, tivesse passado os dois anos com esse título e tomasse a decisão de vendê-lo nesse segundo ano, com certeza teria feito um péssimo negócio, já que nesse interregno (dois anos), o mesmo variou apenas, respectivamente, 2,30% e 0,8%, o que daria um rendimento combinado de pouco mais de 3,11%, bem abaixo dos 21% lineares (10% no primeiro ano e 10% no segundo ano) dos dois anos sucessivos.

Observem lá na situação em que não ocorrem a variação da taxa da economia e dos títulos, que o título deveria estar valendo R$ 751,31 e não os R$ 640,65.

Uma diferença de R$ 110,66 a menor em cada título. Imagine alguém que tivesse comprado 1.000 unidades desse título, estaria, em tese, perdendo R$ 110.660,00, caso se desesperasse e tomasse a péssima decisão de vendê-los.

Mas como nosso exemplo aqui é hipotético e tem o intuito de mostrar somente como ocorrem as variações nos preços dos títulos, vamos dar uma guinada maluca nessas taxas de juros. Agora, no nosso exemplo, a economia entrou nos trilhos, a inflação está controlada, o Bananil cresce a 8% a.a, fazemos superávit primário de 10% do PIB e a taxa de juros está, no terceiro ano, em apenas 7%.


Quanto esse título estaria valendo?


Vamos lá calcular:

1.000\(1,07)^2 (anos) = R$ 873,43

Vejam que a coisa agora se inverteu:

Olhando na nossa tabela sem a alteração das taxas, o nosso título estaria valendo R$ 826,44;

Observem que o título variou mais de 36% de um ano para o outro, saindo de R$ 640,55, do segundo ano, para R$ 873,43. Quem fez marcação a mercado, esperando melhores taxas, conseguiu comprar esse título ao preço de R$ 640,55, em apenas um ano da data da sua compra, tem a possibilidade de ganhar 36,33%, caso opte em vender os seus títulos comprados a R$ 640,55, embolsando altos rendimentos em exíguo tempo.

Se ele optar por segurá-lo até a data do vencimento, receberá apenas a taxa pactuada quando da data de sua compra.

Por outro lado, quem comprou o título ao preço do seu lançamento e se desesperou quando viu o preço do mesmo baixar, vendendo-o, seja por necessidade ou por desconhecimento do funcionamento, vai perder dinheiro na operação, conforme já explicado.

É preciso entender, que quando o título vencer, o valor a ser pago para cada unidade do mesmo será os R$ 1.000,00 combinados lá no início, independente de quem tenha comprado lá no início ou em qualquer outro período.

Quem tive interesse em saber mais detalhadamente as nuances de como esses cálculos são feitos, bem como o valor de remuneração dos títulos, pode acompanhar aqui nesse link abaixo:

http://www3.tesouro.gov.br/legislacao/download/divida/decretos/Bonds_Versao_portugues_atualizado_Revisado.pdf

Agora, continuando, as taxas de juros voltaram a ser de 10% a.a, restando um único ano ainda para o vencimento.


Quanto estará valendo o título?


1000\(1,1)^1 = R$ 909,09, ou seja, um acréscimo de 4,08% do terceiro para o quarto ano;

Vejam que o valor é exatamente igual ao que já havíamos calculado lá naquela primeira situação em que não ocorreriam as variações das taxas de juros, mantendo-se sempre nos 10% a.a

E no ano restante, o título irá de R$ 909,09 para os R$ 1.000,00 acordados desde a data da compra, representando, neste último caso, um acréscimo de 10% no último ano.

As curvas de rentabilidade sempre irão convergir para o mesmo valor da data de vencimento, já que ele sempre valerá R$ 1.000,00 na data de resgate.

O ideal seria que tivéssemos colocado uma amostra maior, um período de 10 anos, mas achei que ficaria extremamente enfadonho, principalmente por envolver cálculos, sendo essa amostra de cinco anos suficiente para demonstrar o funcionamento do mecanismo. No final do artigo eu coloco um vídeo do André Bona, do Blog de Valor, em que ele detalha a operação de marcação a mercado em dez longos anos, havendo, inclusive registros hipotéticos de variações negativas dos preços dos títulos, no caso mencionado por ele.

Vejamos como ficaram as duas tabelas contendo as variações do preço unitário dos títulos, sendo a primeira sem haver variações na taxa de juros e a segunda contendo as variações desses títulos, o que é exatamente o que ocorre na realidade:

1 ano            2 anos            3 anos           4 anos             5 anos

10% a.a        10% a.a         10% a.a        10% a.a           10% a.a

R$ 683,01    R$ 751,31     R$ 826,44    R$ 909,08      R$ 1.000,00.



1 ano             2 anos            3 anos           4 anos             5 anos

2,30% a.a      0,8 % a.a     36,33% a.a      4,08% a.a       10% a.a

Na primeira hipótese, supondo que não pudesse haver variações nas taxas de juros nas negociações dos títulos, os mesmos sofreriam acréscimos constantes de 10% para cada ano de sua validade, ou seja, a remuneração inicialmente contratada acrescida aos juros contratados (10% a.a) a cada ano que se passasse.

Nas nossas simulações, os títulos variaram conforme as taxas de juros de suas negociações, que são significativamente afetadas pelas variações da taxa Selic, tendo havido períodos em que os títulos não renderam nem os 10% a.a pactuados, que poderia ter sido, inclusive, negativa, mas havendo período em que houve uma grande variação dos preços dos mesmos, onde o detentor, fazendo a marcação a mercado, caso quisesse, poderia vendê-los e obter uma grande remuneração em um período de tempo exíguo.

Percebam que quando as taxas de negociação dos títulos sobem, o preço unitário dos mesmos desce, ocasião em que seria mais indicada para aportamos recursos e comprá-los.

Vejam que aqui no blog mesmo muita gente já faz a marcação a mercado mesmo sem saber que está fazendo, uma vez que, no momento em que esperamos taxas mais altas, as tão desejadas 7,xx%, nada mais fazemos esperar que os preços unitários dos títulos caiam de valor para assim os comprarmos. Por outro lado, à medida em que as taxas de negociação dos títulos descem, o valor de face dos mesmos sobe, tornando a compra menos atrativa, mas sendo o momento ideal para quem pretende ganhar muito mais do que as taxas contratadas, fazendo a marcação a mercado e os vendendo.

O fato é que, sempre ressaltando isso, levando os títulos comprados até a data do vencimento, todo mundo receberá aquilo que foi combinado, seja em títulos prefixados ou em títulos atrelados ao IPCA, inclusive “perdendo-se” essas grandes variações nos valores, caso decida-se não vender os títulos nos períodos de grandes oscilações positivas, já que se pagará apenas os R$ 1.000,00 brutos na data de seus vencimentos.

Não sei se consegui me fazer entender, pois o mecanismo de funcionamento não é dos mais simples. De qualquer maneira, a decisão de vender o título antecipadamente e, ocasionalmente, embolsar um rendimento bem maior que o pactuado, é decisão de cada um, razão pela qual eu recomendo as pessoas continuar estudando e aprendendo cada vez mais, o que possibilita a cada um tomar a melhor decisão, de acordo com os objetivos pessoais.

FONTE: BolhaBrasil

Um comentário:

  1. Muito bom! Esse texto é ideal para quem está começando. Tem muita gente que "investe" sem saber o q está fazendo.

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