Ele me perguntou com as coisas vão e se eu já tinha terminado o mestrado. A alguns anos eu iniciei um mestrado e parei na metade porque estava iniciando nos meus 2 empregos. Eu estava muito endividado por causa de uns problemas familiares e precisava da grana. Ainda tentei continuar mas não estava dando conta, mesmo o mestrado sendo um projeto para o trabalho, eu admito que não aguentei. Tranquei e disse que voltaria em breve, não voltei até hoje.
Ele, um capixaba, me disse que eu era bem “guerreiro” e que logo iria voltar e terminar. Que eu tinha muita força de vontade pra fazer o que já estava fazendo.
Isso me pareceu muito uma massagem no ego e eu achei que ele estava exagerando.
O cara sabia que eu tinha vindo de uma cidadezinha bem feia e estava trabalhando em 2 lugares, ainda ajudava a minha família como podia (Já contei aqui que enviei uns 90k pra minha família nos últimos anos). Cheguei na rodoviária a mais de 12 anos sem saber onde iria morar e hoje tenho até que bons empregos.
Fiz muita burrada nesse período, mas muita mesmo. Me fudi com chefes e empresas ruins, fui preguiçoso e desinteressado em outras empresas. Passei muito aperto financeiro e tive que pedir ajuda a minha família. Acho que só comecei a realmente ser alguém de uns 5-6 anos pra cá. Foi quando eu terminei a faculdade e vi que tinha que entrar de cabeça no mercado de trabalho ou estava fudido.
Aí me veio a pergunta “O que me motiva?”
1)Raiva
- Eu tinha muita raiva de andar no sol escaldante, por uma estrada de chão, para chegar no empreguinho de merda que eu tinha. O local onde eu trabalhava era longe pra caramba por ficar num local afastado da cidade.
- Eu tinha raiva de entrar no ônibus lotado ao meio dia, num calor infernal e com gente fedendo, para ir a algum local que o chefe mandava.
- Eu tinha raiva de minha grana nunca dar pra nada. Eu ganhava pouco mais que um salário mínimo, algo como uns R$ 1000,00 hoje. Ainda tinha que agradecer por ter um emprego maior que 1 SM.
- Eu tinha raiva de ver mulherada ficar dando mole pros filhos de fazendeiros e do comércio que estavam de carro, mesmo vendo que os caras eram feios pra chuchu.(Ficava sempre na mão, se é que me entendem.)
- Raiva de ter que ir ao posto de saúde e aguardar horas até ser atendido.
2)Medo
- Medo de ficar naquela situação o resto da vida. Lembro de no caminho que eu andava encontrar jovens como eu cavando valas pra colocar tubulações. Não de uniforme como aqui, estavam sujos e de bermuda usando uma picareta.
- Medo de ser sempre o peão que usava o ônibus lotado e não o cara dentro de um bom carro no ar-condicionado e usando terno que eu observava pela janela.
- Muito, mas muito medo mesmo e ficar desempregado e depender da boa vontade dos outros.
- Medo de ter que aceitar uma tia gorda com esposa porque não encontrava alguém decente. Eu trabalhava com um cara, que não era feio, e estava juntado com uma mulher muito feia e que possuía 2 filhas.
- Medo de morrer doente e sem dinheiro pra comprar os remédios. Tenho muito medo do futuro no país como está.
A somatória dessas duas coisas me dá muita vontade de trabalhar e estudar. A raiva e o medo foram e são grandes motivadores em minha vida.
Ótimo post Baiano! Uma pergunta, posso? Qual sua idade? Voce já passou por um bocado de situação na sua vida e está a cada dia mais crescendo e desenvolvendo. Parabéns!
ResponderExcluirPode sempre fazer perguntas, eu respondo quando puder. Tenho 32 anos. Obrigado.
ExcluirSegundo o politicamente correto, não deveríamos odiar e ter medo e outros sentimentos ruins. Eu penso que esses sentimentos ruins devem ser direcionados para algo bom pra mim. O que me fez crescer foi querer jogar na cara dos outros o meu sucesso, sim, pode parecer ofensivo, errado, sou um cara de bem, educado, mas sei ler nas entrelinhas e já fui muito humilhado nessa vida, já ouvi por exemplo que poderia ser efetivado em uns 10 anos, 10 fucking years, isso é muito pra uma expectativa de vida de 75 anos. Juntei todos esses sentimentos e foquei em estudar e melhorar mais pra atingir o sucesso e "jogar na cara das pessoas", entre aspas pois mantenho minha humildade e respeito na lida com todos, mas sei que na mente delas vai ficar aquela coisa de "nossa, ele chegou lá, q inveja". Além, é claro de não passar mais dificuldade, poder desfrutar de alguns prazeres. Dinheiro é liberdade, é qualidade de vida, é respeito, é amor, é prazer, é saúde, é vida.
ResponderExcluirA raiva de continuar no fracasso que me move a querer sair dessa pobreza.
ResponderExcluirA inveja dos outros conseguindo as coisas de mão beijada é que me deixa irado.
Eu fico abismado como tem gente que não gasta 10% do esforço que faço para conseguir a coisas. Comigo sempre é um parto para conquistas pequenas coisas e mesmo assim ser pior do que o de muita gente.
10% é muito. Eu tinha um amigo na minha cidade que era filho de um agiota rico pra caramba. Ele era feio e gordo. Pegou todas as mulheres que eu sonhava em pegar só pq era rico. O cara tinha carro a disposição desde os 13 anos de idade. Com 15 anos ele ia me buscar de carro pra simplesmente ter alguém pra jogar vídeo-game com ele.
ExcluirSempre fui pobre, e no início da adolescência a minha motivação era parecido com a sua. Todos tinham brinquedos, ganhavam coisas no aniversário/natal e ovos de páscoa na páscoa. Eu nunca tinha isso (mas deva um jeito de comprar os ovos quebrados após a páscoa) e de fato queria ter. Comecei a estudar pra caralho no ensino médio, fiz curso técnico no cefet, saí de lá com 18 anos e estageando.
ResponderExcluirHoje, cinco anos depois, virei classe média e já não tenho mais medo ou raiva para me motivar.
O que de fato me motiva hoje é a satisfação em trabalhar (sim, eu realmente gosto de trabalhar), me sinto feliz realizando coisas e fazendo os planos e projetos saírem do papel.
Maior que a satisfação de trabalhar é a de ter dinheiro pra fazer o que quer. É muito ruim querer comer, beber ou simplesmente sair de casa e não ter dinheiro pra isso.
ExcluirExatamente.
ExcluirNo meu caso, o salário consegue suprir as minhas necessidades (tenho um estilo de vida simples), consigo investir e ainda sobra no fim do mês.
Hoje em dia, o dinheiro por si só já não me basta, se eu estagnasse, continuaria recebendo bem próximo do que ganho hoje, mas quero mais. Não necessariamente só por conta do dinheiro.
O que me motiva é a raiva e a esperança( ainda tenho alguma) mas sou bem mais racional do que antes.
ResponderExcluirTambém vim de família pobre, e pior do que isto, totalmente desestruturada. Sinto muito raiva de não ter tido as mesmas oportunidades que outros colegas tiveram, mesmo estes sendo menos inteligentes e esforçados.
Abraços!
Boa noite cara. Ótimo post! Sou de salvador também e acompanho seu blog já faz um tempo.
ResponderExcluirAtualmente eu levo uma vida um pouco parecida da que você descreveu. As motivações de seguir em frente são praticamente as mesmas. O pior, na minha opinião, é você trabalhar em um lugar onde as pessoas hierarquicamente superiores a você demonstram não ter nenhuma competência que justifique suas posições. Infelizmente em Salvador existem muitas pessoas que se beneficiam de influência para subirem na vida. Dia após dia me pergunto se não deveria fazer o mesmo. Se as recompensas do caminho através do trabalho vão compensar todo esforço despendido. Enfim...
Se me permite gostaria de saber no que você se formou. Ainda estou nos meus primeiros anos de faculdade e inseguro da minha escolha rsrs.
Abraços!